O Conhecimento acerca do TDAH tem sido cercado de idéias falsas,
desprovidas de embasamento científico.
A Ciência, na sua busca pelo conhecimento da natureza, faz exigência de
alguns critérios e usa de rigor para assegurar que um determinado acontecimento
é uma verdade científica.
Importante lembrar que, diante de um fato isolado observado, não devemos
apressadamente inferir que o fato antecedente gerou o fato posterior até que
várias repetições do fenômeno em circunstâncias idênticas tenham se repetido, e
que se possa estabelecer um vínculo lógico entre os acontecimentos em jogo.
Outra exigência da Ciência é que, sempre que possível, o fenômeno possa ser
repetido empiricamente.
Vamos examinar em seguida algumas falsas crenças que as pessoas têm
mantido em relação ao TDAH.
Mito 1
“O TDAH é um distúrbio fantasma, não
existe. Na verdade criaram uma boa desculpa para pais e professores
justificarem suas dificuldades de educar e de colocar limites a certas crianças
mais difíceis que as outras.”
Resposta: O transtorno
tem sido descrito tanto na cultura ocidental quanto na oriental. Os estudos com
gêmeos e com crianças adotadas mostram que o papel predominante é do fator
hereditário, cabendo ao ambiente uma participação menos expressiva na gênese do
problema.
Veja a carta assinada por 80 profissionais experientes sustentando que o TDAH é um transtorno legítimo.
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Mito 2
“As crianças com TDAH não são
diferentes das demais. Nenhuma criança consegue ficar quieta ou prestar atenção
por muito tempo seguido.”
Resposta: É verdade que as
capacidades de controle da atividade motora, dos impulsos e da capacidade vão
se desenvolvendo no período da infância.
A diferença entre uma criança com TDAH e outra talvez não possa ser bem
percebida na hora do recreio da escola, quando é de se esperar que todas as
crianças estejam correndo, pulando ou gritando. Porém, ao soar a campainha do
fim do recreio, quando todos retornam à sala de aula, aí podemos observar que
uma determinada criança sistematicamente não consegue parar, e nas aulas é
frequentemente incapaz de sustentar a atenção, desviando a sua atenção para
outros estímulos com maior facilidade do que as demais.
A diferença é quantitativa e não qualitativa. Quer dizer, tudo que uma
criança com TDAH mostra no seu comportamento as demais também apresentam, só
que naquela que tem TDAH isto aparece de uma forma mais intensa, freqeente e
trazendo inúmeros prejuízos em todas as esferas de sua vida, escolar, familar e
social.
Mito 3
“O TDAH é um transtorno muito mais
freqüente no sexo masculino.”
Resposta: Durante muitos anos
o componente da hiperatividade foi considerado o fato mais importante nesse
transtorno e, como os meninos costumam apresentar mais hiperatividade que as
meninas, acreditou-se que esse problema seria bem mais comum no sexo masculino.
Em 1980 (DSM-III) a denominação utilizada passou a ser Distúrbio do
Déficit de Atenção. Com essa mudança as dificuldades de atenção destronaram a
hiperatividade. O que ficou evidente é que nas meninas o tipo clínico que cursa
sem hiperatividade (Tipo Predominantemente Desatento) é mais comum. Por essa
razão, por ser menos ruidoso, esse tipo pode passar mais tempo sem ser
identificado, ou ser facilmente confundido com outras condições, como
depressão, deficiência intelectual leve, problemas psicológicos, etc.
Mito 4
“Os sintomas de TDAH geralmente
desaparecem espontaneamente no final da adolescência.”
Resposta: Era exatamente isso
que se pensava enquanto o fator hiperatividade era o mais importante no quadro
clínico, pois existe uma tendência da hiperatividade declinar com o passar dos
anos, ao passo que os sintomas de desatenção tendem a persistir.
Na verdade nem sempre a hiperatividade desaparece, ela apenas evolui de
acordo com a idade. Por exemplo, uma criança hiperativa pula sem parar, trepa
nos armários da casa, corre de um lado para outro. Quando essa mesma pessoa
chega à idade adulta não é de se esperar que ela continue com o mesmo
comportamento, mas podemos ver que ela está sempre andando de um lado para
outro, faz tudo como se estivesse com muita pressa, não consegue deixar as mãos
paradas, assume inúmeras tarefas simultaneamente, sem conseguir finalizar a
maioria delas, tem dificuldade de planejamento, seguir metas e de se organizar
de uma maneira geral.
Mito 5
“Se uma criança com TDAH consegue fazer
com muita atenção uma atividade do seu interesse (videogame, por exemplo) e não
consegue fazer os deveres escolares, a razão para isso parece ser uma falta de
vontade ou motivação.”
Resposta: Na verdade o termo
“déficit de atenção” não descreve fielmente o que ocorre e provavelmente será
substituído no futuro, pois o que ocorre com essas pessoas é uma inconstância
ou má-regulação da atenção. Existe um prejuízo na capacidade de a pessoa dirigir
sua própria atenção, ou seja, uma dificuldade na atenção voluntária.
Muitas dizem que tentam se esforçam para ler, estudar, mas não
conseguem. É claro que depois de algum tempo essas pessoas vão de antemão
evitar ou desistir antes mesmo de iniciarem essas tarefas tão penosas para
elas.
Na verdade a criança com TDAH costuma, em alguns casos, concentrar-se com maior facilidade em atividades mais dinâmicas, mais motivantes, lúdicas e pouco repetitivas. A isso costuma-se chamar de Hiperfoco.
Na verdade a criança com TDAH costuma, em alguns casos, concentrar-se com maior facilidade em atividades mais dinâmicas, mais motivantes, lúdicas e pouco repetitivas. A isso costuma-se chamar de Hiperfoco.
Mito 6
“Os medicamentos usados no tratamento
do TDAH provocam efeitos colaterais sérios e podem causar dependência.”
Resposta: A maioria dos
especialistas com experiência no acompanhamento de pessoas com o transtorno,
afirmam que os medicamentos utilizados para o tratamento do TDAH são eficazes e
seguros. É evidente que qualquer medicamento pode produzir efeitos adversos, e
os medicamentos para o TDAH não fogem a essa regra. Devem ser administrados por
profissional com experiência no seu manejo.
Mito 7
“O uso de medicação para tratar o TDAH
pode predispor a criança se tornar um dependente de outras drogas no futuro.”
Resposta: Estudos já foram realizados acompanhando as crianças que tinham feito
uso de medicamentos para TDAH, e comparando esse primeiro grupo com outro grupo
de crianças que, por qualquer razão, não tinham feito tratamento para TDAH. O
resultado é que a ocorrência de abuso de drogas na juventude revelou-se maior
ou idêntico no grupo não tratado para TDAH, o que mostra que o tratamento
medicamentoso, na verdade, não é capaz de induzir ao abuso de
drogas.
Mito 8
“Apresentar TDAH na infância traz
poucas conseqüências para a vida da pessoa e por isso não se justifica um
tratamento nessa idade.”
Resposta: Alguns casos de
TDAH menos intensos, quando acompanhados de alto nível intelectual e ambiente
familiar bem estruturado (fatores de resiliência ou proteção), podem passar
pela vida sem que o transtorno cause grandes prejuízos na sua qualidade de
vida.
Todavia, na maior parte dos casos, o TDAH compromete seguramente a
qualidade de vida da pessoa, e sem dúvida, isto significa que ela seria capaz
de desenvolver melhor o seu potencial se tivesse em tratamento para TDAH.
Prejuízos na auto estima, rendimento escolar e profissional abaixo da
real capacidade, conflitos com colegas e cônjuges, maior comorbidade com outras
doenças, como depressão, ansiedade, dentre outras, maior tendência maior a ter
múltiplos casamentos, gestações indesejadas, abuso de álcool e drogas, são
algumas das possíveis conseqüências que a falta do tratamento do TDAH traz para
a vida das pessoas.
Sam Goldstein, experiente psicólogo norte-americano, afirma que “o risco
de não tratar é certamente maior que o risco do tratamento”.
Mito 9
“TDAH e Hiperatividade são sinônimos.
Todas as crianças com TDAH são hiperativas.”
Resposta: Os sintomas de
Hiperatividade só estão presentes no tipo combinado e predominantemente
hiperativo. No tipo predominantemente desatento não está presente o sintoma de
hiperatividade.
Mito 10
“Uma vez diagnosticada como TDAH, a
criança tem uma boa desculpa para seu rendimento escolar prejudicado.”
Resposta: Nem sempre o diagnóstico de TDAH responde por todas as questões
referentes ao rendimento escolar prejudicado. Transtornos de aprendizagem como
dislexia, discalculia, disortografia, má qualidade de ensino, didática
equivocada, métodos de ensino obsoletos e falta de recursos pedagógicos podem
explicar alguns casos que não necessariamente estão associados ao TDAH.
O TDAH é um transtorno da atenção. Uma vez que a atenção e concentração
são condições necessárias para todo e qualquer processo de aprendizagem, o TDAH
interfere no desempenho acadêmico e escolar global.
Mito 11
“Um tratamento à base apenas de
medicamentos pode resolver satisfatoriamente quase todos os casos de TDAH.”
Resposta: O tratamento do
TDAH está baseado em um tripé de ações: Psicoeducação (informação sobre o
transtorno), Psicoterapia (nos casos em que há prejuízo psicológico) e
Medicação.
Em todos os casos, a psicoeducação é elemento fundamental e prioritário para o tratamento do TDAH.
Em todos os casos, a psicoeducação é elemento fundamental e prioritário para o tratamento do TDAH.
Fonte: Artigos do Dr. Sergio Bourbon
(adaptado)
Associação Brasileira do Déficit de Atenção
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